querermos cantar, querermos tocar, querermos escutar.

quarta-feira, 30 de março de 2011

de propósito.

primeiro foram os pingos. eu não os sentia, mas só porque não me fora permitido abrir o vidro da janela. olha a pneumonia, menino! olha a cobra, garoto! olha a perereca também, né? aqui em casa essa coisa de menino quieto é anormalidade, e sentir gota de chuva ou afundar o pé na lama é terror pra minha mãe. pra ser sincero, ela já deveria ter se acostumado antes de nós três nascermos. poxa, se não quer quieto, não quer hiperativo? o meinho é difícil, meu!
mas, enfim... depois vieram os coaxares e eu já achando que tudo aquilo era muito bom. meu pai chegou, mas nem me percebeu. menino quieto é assim mesmo. eu até disse um "olá" com os lábios fechados, mas acho que o barulho da rua atrapalhou-o de captar-me. e foi justamente aí, no momento das ondas balançadas do tim-tim dom-dom que eu percebi o que eu queria ser: musicista. parece surreal, mas não é não. surreal foi quando eu disse, ou melhor, anunciei pra minha mãe. o meu pai nem bola deu, mas minha mãe... estou sentindo as vibrações da mão dela até hoje.
ah, mas quer saber? acho que foram esses "tapinhas" que me empurraram de vez, pois foi dito e feito: estou eu, aqui, com meus 23 anos de corpo, voltando de uma sessão de estúdio da gravação do meu primeiro disco. às vezes até acho que é tudo sonho criado pelas gotas da chuva tamborilando na janela do meu quarto. será que eu esqueci de fechar o vidro? eu deixei de propósito.

3 comentários:

  1. minha vida tem janelas, abro semrpe todas elas e mais uma pra te ver!

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  2. Janelas Abertas n°2
    (Caetano Veloso)


    Sim, eu poderia abrir as portas que dão pra dentro
    Percorrer correndo os corredores em silêncio
    Perder as paredes aparentes do edifício
    Penetrar no labirinto O labirinto de labirintos
    Dentro do apartamento
    Sim, eu poderia procurar por dentro a casa
    Cruzar uma por uma as sete portas,
    as sete moradas Na sala receber o beijo frio em
    minha boca Beijo de uma deusa morta Deus morto,
    fêmea de língua gelada Língua gelada como nada Sim,
    eu poderia em cada quarto rever a mobília
    Em cada uma matar um membro da família Até que a
    plenitude e a
    morte coincidissem um dia O que aconteceria de
    qualquer jeito
    Mas eu prefiro abrir as janelas prá que
    entrem todos os insetos

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  3. Esquadros
    (Adriana Calcanhotto)

    Eu ando pelo mundo
    Prestando atenção em cores
    Que eu não sei o nome
    Cores de Almodóvar
    Cores de Frida Kahlo
    Cores!
    Passeio pelo escuro
    Eu presto muita atenção
    No que meu irmão ouve
    E como uma segunda pele
    Um calo, uma casca
    Uma cápsula protetora
    Ai, Eu quero chegar antes
    Prá sinalizar
    O estar de cada coisa
    Filtrar seus graus...
    Eu ando pelo mundo
    Divertindo gente
    Chorando ao telefone
    E vendo doer a fome
    Nos meninos que têm fome...
    Pela janela do quarto
    Pela janela do carro
    Pela tela, pela janela
    Quem é ela? Quem é ela?
    Eu vejo tudo enquadrado
    Remoto controle...
    Eu ando pelo mundo
    E os automóveis correm
    Para quê?
    As crianças correm
    Para onde?
    Transito entre dois lados
    De um lado
    Eu gosto de opostos
    Exponho o meu modo
    Me mostro
    Eu canto para quem?
    Pela janela do quarto
    Pela janela do carro
    Pela tela, pela janela
    Quem é ela? Quem é ela?
    Eu vejo tudo enquadrado
    Remoto controle...
    Eu ando pelo mundo
    E meus amigos, cadê?
    Minha alegria, meu cansaço
    Meu amor cadê você?
    Eu acordei
    Não tem ninguém ao lado...
    Pela janela do quarto
    Pela janela do carro
    Pela tela, pela janela
    Quem é ela? Quem é ela?
    Eu vejo tudo enquadrado
    Remoto controle...
    Eu ando pelo mundo
    E meus amigos, cadê?
    Minha alegria, meu cansaço
    Meu amor cadê você?
    Eu acordei
    Não tem ninguém ao lado...
    Pela janela do quarto
    Pela janela do carro
    Pela tela, pela janela
    Quem é ela? Quem é ela?
    Eu vejo tudo enquadrado
    Remoto controle...

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