primeiro foram os pingos. eu não os sentia, mas só porque não me fora permitido abrir o vidro da janela. olha a pneumonia, menino! olha a cobra, garoto! olha a perereca também, né? aqui em casa essa coisa de menino quieto é anormalidade, e sentir gota de chuva ou afundar o pé na lama é terror pra minha mãe. pra ser sincero, ela já deveria ter se acostumado antes de nós três nascermos. poxa, se não quer quieto, não quer hiperativo? o meinho é difícil, meu!
mas, enfim... depois vieram os coaxares e eu já achando que tudo aquilo era muito bom. meu pai chegou, mas nem me percebeu. menino quieto é assim mesmo. eu até disse um "olá" com os lábios fechados, mas acho que o barulho da rua atrapalhou-o de captar-me. e foi justamente aí, no momento das ondas balançadas do tim-tim dom-dom que eu percebi o que eu queria ser: musicista. parece surreal, mas não é não. surreal foi quando eu disse, ou melhor, anunciei pra minha mãe. o meu pai nem bola deu, mas minha mãe... estou sentindo as vibrações da mão dela até hoje.
ah, mas quer saber? acho que foram esses "tapinhas" que me empurraram de vez, pois foi dito e feito: estou eu, aqui, com meus 23 anos de corpo, voltando de uma sessão de estúdio da gravação do meu primeiro disco. às vezes até acho que é tudo sonho criado pelas gotas da chuva tamborilando na janela do meu quarto. será que eu esqueci de fechar o vidro? eu deixei de propósito.
minha vida tem janelas, abro semrpe todas elas e mais uma pra te ver!
ResponderExcluirJanelas Abertas n°2
ResponderExcluir(Caetano Veloso)
Sim, eu poderia abrir as portas que dão pra dentro
Percorrer correndo os corredores em silêncio
Perder as paredes aparentes do edifício
Penetrar no labirinto O labirinto de labirintos
Dentro do apartamento
Sim, eu poderia procurar por dentro a casa
Cruzar uma por uma as sete portas,
as sete moradas Na sala receber o beijo frio em
minha boca Beijo de uma deusa morta Deus morto,
fêmea de língua gelada Língua gelada como nada Sim,
eu poderia em cada quarto rever a mobília
Em cada uma matar um membro da família Até que a
plenitude e a
morte coincidissem um dia O que aconteceria de
qualquer jeito
Mas eu prefiro abrir as janelas prá que
entrem todos os insetos
Esquadros
ResponderExcluir(Adriana Calcanhotto)
Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...
Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...