querermos cantar, querermos tocar, querermos escutar.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Mais Tropicalismo, por favor.

Ando descontente da minha geração.
Intolerante com discussões caretas sobre banda colorida e piadas sem graça. Legião de trolls bobos e sem assunto com suas ofensas gratuitas e sem proposito. Punks de GTA’s, hipsters quadriculados e enjaulados, indies do Morumbi (patrocinados), carnavalescos de micareta (embalados em abadás) e sertanejos universitários. A busca incessante por uma tribo, por uma identidade… que claramente leva ao resultado oposto.
A classe media brasileira cresceu culturalmente insegura. Não tem estofo suficiente para criar nada, e nem segurança para aceitar o que gosta. Em pânico, agrupa-se em clusters comerciais e convenientes, e não produz, não valoriza e nem gera valor a absolutamente nada. Falam bem do CQC para parecerem inteligentes, falam mal dos coloridos e emos para não parecerem ridículos. Papagaios de stand up. E, transitando pelo obvio, levam uma vida inteira sem nunca terem produzido um caco sequer.
Campanhas de twitter, e já participei de dezenas, no momento me dão a sensação de passeatas em condomínios fechados. Funcionam como caixa de reverberação, mas na maioria das vezes viram manchetes irrelevantes, rotuladas desde o início como movimento de twitter. Qual a relevância do tal do churrasco de gente diferenciada em Higienopólis? Tudo foi reduzido a uma piada. Para mim não está valendo mais.
Um pouco mais de Tropicalismo, por favor.
O texto em que Caetano defende Maria Bethania da trolagem míope da web, me lembrou de um tempo em que as pessoas afirmavam suas posições com veemência, chamavam pro pau. Um tempo em que as pessoas tinham disposição para brigar por alguma coisa, nem que seja pela própria irmã. E isso, que hoje parece muito, é insignificante para alguém que há quase 50 anos, ainda jovem, enfrentou a própria juventude afirmando: “vocês não estão entendendo nada”.
Temos que ser mais Chacrinha, e menos Faustão. O Velho Guerreiro rodava o Brasil com seu cassino, descobria talentos populares em todos os cantos, e trazia para o horário nobre. Num mesmo bloco estavam Sarajane, descoberta em Nazaré das Farinhas na Bahia, Lobão e Gilliard. Chacrinha, sem qualquer pudor, apresentava o Brasil ao Brasil. E o Brasil gosta do Brasil. Se o Samba tivesse surgindo hoje não teria resistido a Folha de São Paulo, não teria saído do recôncavo, descido do morro.
Falta mesmo é culhão e cultura para se assumir posições próprias e não temer o julgamento da classe média intelectual. Se não podemos nivelar por cima, então que seja por baixo, mas jamais pela média. A falta de referências, educação e informação, está criando uma massa enorme e apática de gente desinteressante. Culturalmente, acredito mais no Brasil do Candeal ou do Vidigal do que no Brasil do Itaim.
Saudoso de um tempo que não vivi, de histórias que não testemunhei. Posso ter entendido tudo errado. Ou talvez sejamos apenas a calmaria antes da tempestade, o silêncio antes da explosão.
E eu já queria ser explosão.

por PedroTourinho
http://pedrotourinho.me/2011/05/17/mais-tropicalismo-por-favor/#comment-7

Um comentário:

  1. é bom perceber que não se está sozinho quanto a opiniões nesse âmbito. mas, é preciso ver também os caráteres temporais dos fatos. não dá para comparar estes sentimentos coletivos anacronicamente. não mesmo. vivemos numa época em que as coisas estão sensivelmente mais livres. e quando digo livres, digo que temos maior liberdade mesmo. não quero dizer que somos cem por cento livres - o que, acredito eu, não somos mesmo (precisa citar as ditaduras do consumo, da moda e tantas outras? não, né?), mas ganhamos certo espaço em relação a tempos como o da ditadura. se estamos cerceados, agora é de forma menos nítida.
    enfim... é preciso perceber que muitas das "limitações" foram quebradas lá pelos anos 1960, desde a revolução do maio de 68 até a queda do muro de berlim (ou num período muito maior), tudo, tudo, tudo daquele tempo até aqui. a gente diz que eles eram mais rebeldes, mas eles eram também mais pressionados, tinham imagens concretas limitando seus anseios. hoje, o que temos são instituições abstratas, como a sociedade, o capitalismo - réu comum em redações, pode crer. há uma acomodação também, afinal, muita coisa já foi conquistada, né? mas, peraí: será mesmo?
    acho que um dos grandes problemas dessa juventude de hoje é, se não está acomodada e não sente essa pressão, prefere acreditar que os tempos são outros mesmo.

    mas de uma coisa eu tenho certeza: viver o hoje com o olhar no passado não é nada fácil. no futuro, então, nem se fala.

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